No Esporão, biológico resiste melhor que em Proteção Integrada

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O Esporão é um exemplo de um produtor nacional de referência que decidiu passar toda a sua produção para o Modo de Produção Biológico (MBP). O diretor agrícola explica que “foi uma decisão arriscada mas hoje temos toda a Herdade do Esporão em biológico”, bem como a propriedade do grupo em Portalegre e a Quinta dos Murças no Douro, faltando apenas cerca de 125 hectares na Herdade dos Perdigões. Amândio Rodrigues avança que a reconversão começou em 2008 e “em 2011 já tínhamos certificado 80 hectares de olival e 77 de vinha” e “nesse ano deixámos de usar herbicidas mesmo na Produção Integrada (PI) e em termos de fertilização também usamos os produtos biológicos nos dois modos de produção porque torna mais fácil a ‘habituação’ das plantas à transferência pra o MPB”.

Quanto ao desempenho e rentabilidade da vinha biológica, o diretor agrícola do Esporão refere que, por exemplo “2016 não foi um ano fácil mas tivemos menos quebra de produção no bio do que na PI, talvez porque começávamos sempre as intervenções pelo biológico”. O responsável diz-nos que o grupo teve de aumentar o parque de máquinas para poder dar uma resposta mais rápida em caso de necessidade de tratamentos, porque “para os tratamentos preventivos temos um máximo de três dias de capacidade de intervenção”.

Com a passagem ao MPB o Esporão pretende: recuperar a fertilidade dos solos; promover um equilíbrio entre as pragas e os auxiliares; reduzir o consumo de água utilizada na rega; utilizar compostos orgânicos (recorrendo a subprodutos gerados pela atividade própria); promover a variabilidade da fauna e da flora dos ecossistemas; e produzir uvas de maior qualidade.

Assim, avançaram-se com várias medidas começando pelo levantamento topográfico (altimetria) e pela cartografia do solo com base na condutividade elétrica, depois avançou-se com a arborização das valas de drenagem; com a compostagem; a colocação de sebes de proteção para a fixação de auxiliares; bem como o controlo e gestão da rega; a manutenção do solo; e o controlo de pragas e doenças.

Nas sebes para a fixação de auxiliares Amândio Rodrigues salienta que a escolha recaiu principalmente em roseiras bravas e madressilvas de amora silvestre e ainda alguns sabugueiros, enquanto nas estradas principais se colocou alecrim e medronheiro, “por serem de folha persistente e proporcionarem bom abrigo para os auxiliares”.

Na entrelinha semeia-se trevo ou deixam-se crescer as ervas autóctones, que depois se cortam e deixam no terreno em conjunto com os resíduos da poda e outra forma de manter o equilíbrio é “com a ajuda de animais, temos galinhas que andam na vinha e esgravatam, ajudando no ecossistema, e que vamos mudando com um galinheiro móvel em cima de um reboque, bem como ovelhas que comem a erva”.

O diretor agrícola do Esporão explica-nos que “a adega também está certificada mas não é uma bandeira ter vinho biológico, mas sim o tipo de agricultura que fazemos” e lembra uma área que, até agora nenhum outro produtor referira: a importância também da sustentabilidade social. “O Esporão tem dado grandes passos nesse aspeto, para que os colaboradores sejam sempre parte presente. Por exemplo, desde 2015 que a empresa serve uma refeição quente a todos os funcionários, em todas as propriedades”.

Monte da Ravasqueira quer reconverter toda a vinha para biológico

Pedro Pereira Gonçalves, administrador e enólogo do Monte da Ravasqueira, assegura que “queremos deixar de usar produtos químicos, caminhando no sentido que os consumidores pedem cada vez mais: produtos amigos do ambiente”. Mas salienta que “não é fácil, porque em alguns anos é mais complicado do que noutros, quando não há muita pressão de pragas e doenças consegue-se melhor”, adiantando que em MPB só se pode usar, basicamente, enxofre e calda bordalesa (cobre).

O Monte da Ravasqueira, em Arraiolos, tem já cerca de 10% da vinha no segundo ano de transição para biológico, ficando completa este ano. “Acredito que o caminho é este, porque tudo o que aplicamos na vinha vai parar à uva. Se fizermos análise está lá tudo, na uva e no vinho”, refere o enólogo e adianta: “por exemplo, a Touriga Nacional que temos na nossa parcela biológica está muito mais fresca e intensa”, nota-se a diferença.

A Ravasqueira “faz hoje 70% menos tratamentos com doses menores em cada aplicação do que há cinco anos atrás”, garante, acrescentando: “também na adega usamos menos 60% de produtos, conseguindo assim caminhar por uma vertente muito mais natural e sustentável”.

Pedro Pereira Gonçalves adianta que a empresa tem “um plano para aumentar em 15% ao ano a produção biológica, pelo que em cerca de oito anos esperamos ter tudo em MPB”. Tudo isto está definido no Plano de Sustentabilidade, que inclui também indicações sobre a mobilização do solo, tipo de matéria orgânica que se coloca na vinha, entre outras indicações. “Não mobilizamos o solo e não semeamos nada na entrelinha porque as plantas que nascem estão bem adaptadas à zona e estamos a tentar deixar mesmo de usar herbicida, apesar de termos uma zona mesmo junto à vinha onde não queremos ter nada”.

O responsável salienta que “ainda não há mercado em Portugal para o vinho biológico mas lá fora está a crescer”.

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