Fundação Eugénio de Almeida aposta na diversificação e aumento de área

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O investimento da Fundação Eugénio de Almeida (FEA) na sua área agrícola reparte-se por novas culturas, caso do amendoal superintensivo, mas também no aumento de área de olival e de vinha, bem como da capacidade da Adega da Cartuxa. Crescer na exportação e lançar produtos de valor acrescentado, como o presento de porco alentejano, são outras apostas. A ideia é investir 30 milhões de euros até 2018.

A Direção Agropecuária gere o setor fundamental para a Fundação Eugénio de Almeida (FEA) com destaque para a “viticultura e enologia que é o core business da Fundação”, frisa o administrador executivo. José Mateus Ginó adianta que “a produção de vinho e a sua comercialização representam 80% da receita da FEA”, sendo que os resultados líquidos da área agrícola da FEA rondaram os cinco milhões de euros em 2015.

Mas nos últimos anos a Fundação fez uma opção estratégica na diversificação, com o azeite a contar já para 8% das receitas e a amêndoa a configurar outra grande aposta. Para isso, plantou 160 hectares de amendoal superintensivo, uma decisão que o responsável salienta ter sido sustentada “na análise das oportunidades de mercado e, constatando uma carência, decidimos avançar e, neste caso, depois da experiência do olival, sermos menos conservadores e apostar logo no superintensivo”.

Na diversificação e aumento de área e capacidade, a FEA vai investir 30 milhões de euros até 2018. Parte do investimento planeado será aplicada na expansão da área de produção, dos atuais 480 para 650 hectares de vinha, bem como no olival onde já tem cerca de 400 hectares, 270 em regime intensivo.

Por outro lado, cerca de 12 milhões de euros, estão já a ser aplicados na ampliação da Adega Cartuxa, num novo edifício com seis mil metros quadrados. Metade desse espaço entrou em produção na vindima de 2016, estando previsto que os restantes três mil metros quadrados entrem em produção até ao final deste ano. O objetivo é que até 2018 a Adega Cartuxa aumente a sua produção das atuais 4,5 milhões de garrafas, para 6,5 milhões de garrafas.

Amendoal entra em produção em 2018

Pilar Vasconcelos, da Direção Agropecuária, e que acompanhou a reportagem da VIDA RURAL na visita aos campos da Fundação, explica-nos que “o amendoal tem vindo a ser plantado em várias fases, desde setembro de 2015, e escolha recaiu nas variedades de casca rija Soleta, Guara, Avijor e Isabelona, com rega gota-a-gota em linha dupla e deverá entrar em produção em 2018” mas, adianta, “o comportamento tem sido muito bom e, como se pode ver, já vamos ter muitas árvores em produção este ano, embora não se justifique colher”. O administrador executivo confirma que “este ano ainda não vamos colher, porque não é rentável apesar de termos muito mais fruto que o previsto, mas no próximo já esperamos ter produção para vender, embora ainda não em pleno”.

Fundação Eugénio de Almeida aposta na diversificação e aumento de área

Sobre a transformação e venda, José Mateus Ginó afirma que “a Fundação ainda está a estudar qual a melhor opção para nós, se seremos apenas produtores ou se, em conjunto com outros produtores, iremos avançar também para o descasque e despela”.

A engenheira agrónoma conta-nos que “não foi necessário fazermos correções ao solo, preparámos apenas o solo e os camalhões para as plantas que tiveram de vir de Espanha porque não há plantas cá”, lamenta, acrescentando “tal como não há oliveiras”. Pilar Vasconcelos diz-nos ainda que “no amendoal, tal como no olival, optámos por não semear na entrelinha, aproveitando as plantas autóctones, mas na vinha ainda temos áreas com enrelvamento na entrelinha, por exemplo nos 60ha de vinha biológica na Herdade dos Pinheiros e na Quinta de Valbom”, de onde sai o EA biológico Branco e Tinto, lançado em setembro de 2016.

“No primeiro e segundo ano a fertilização tem de ser mais intensiva e temos podas para orientar as árvores as árvores para podermos depois utilizar na colheita a nossa nova máquina de vindimar com uma peça específica acoplada”, refere a técnica, salientando que “a máquina do olival não dá, porque como é olival intensivo fazemos a colheita com vibrador”.

Vinha aposta no biológico

A FEA possui 480 hectares de vinha próprios, mais 110 hectares arrendados e ainda compra uva a alguns viticultores da região. Mas o objetivo é aumentar a área própria até aos 650 hectares. A vinha está globalmente em produção integrada e o enólogo da Fundação disse recentemente, num artigo na revista ENOVITIS (do mesmo grupo da VIDA RURAL) que “desde há cinco anos que usamos um software que calcula o estado potencial de infeção da planta e que sugere a percentagem de dose recomendada para aplicar, pelo que tratamos apenas mesmo quando necessário e com uma dose muito pequena face ao indicado pelas empresas”, tendo reduzido em cerca de 30% o uso de produtos químicos.

Pedro Batista (agora também administrador da Fundação) referia ainda que na entrelinha a Cartuxa semeia principalmente misturas à base de leguminosas para fixar azoto no solo e salientava que a quebra de produção na transição para o Modo de Produção Biológico não foi significativa “porque tivemos sempre um cuidado extremo” e dizia até que “conseguimos uma maior rentabilidade nas vinhas biológicas do que nas restantes porque os produtos – cobre e enxofre – são muito mais económicos, e os preparados biodinâmicos ainda mais porque somos nós que colhemos”.

Isto porque, “já desde 2010 que começámos também a aplicar os princípios da viticultura biodinâmica”, informava o enólogo explicando que “a base de trabalho é a viticultura biológica à qual juntamos os princípios da biodinâmica, nas datas das práticas culturais e com a aplicação dos preparados biodinâmicos, que nos têm dado uma ajuda enorme em relação à melhoria da fertilidade do solo e também pelas hipóteses que abre no combate às pragas”. E garantia: “usamos os preparados da biodinâmica há seis anos e são mais eficazes”.

Crescer na exportação

Das marcas de vinho que a Fundação Eugénio de Almeida tem destaca-se o Pêra-Manca que a FEA destina aos seus vinhos de exceção, sendo que o Tinto só é lançado apenas em anos de excecional qualidade. O Pêra-Manca Branco tem por base as castas Antão Vaz e Arinto e o Tinto é produzido a partir das castas Trincadeira e Aragonez, sendo um vinho que apresenta grande longevidade, necessitando de algum tempo para revelar todo o seu potencial.

José Mateus Ginó, presidente do Conselho Executivo da Fundação Eugénio de Almeida

José Mateus Ginó, presidente do Conselho Executivo da Fundação Eugénio de Almeida

Outro destaque vai para o Scala Coeli, produzido a partir das melhores vinificações do ano, de castas estrangeiras ao Alentejo. Os principais mercados de exportação dos vinhos da Adega Cartuxa são o Brasil, os Estados Unidos, Macau, Angola, e o Canadá.

“Tendo sempre um cuidado especial com o mercado nacional”, frisa José Mateus Ginó, “fomos desenvolvendo a intenção de tornar os mercados internacionais uma parte importante do nosso negócio, e vamos continuar a fazê-lo no vinho e no azeite, mas também noutros produtos em que surjam oportunidades”.

A área de olival da FEA já cresceu também para os cerca de 400 hectares, sendo 270 hectares de olival intensivo (300 árvores/ha e 412 nas plantações mais recentes), das variedades Cobrançosa, Arbequina, Picual, Cordovil e Koroneiki. E Pilar Vasconcelos diz-nos que em 2016 “a produção média rondou os 8.500Kg de azeitona por hectare”. A capacidade total do lagar da Cartuxa é de seis milhões de quilos, sendo que a produção andou em torno dos quatro milhões de quilos, mas a Fundação também compra azeitona a outros produtores da região, acompanhando os seus olivais, produzindo só Azeite Virgem Extra das marcas Álamos, EA e Cartuxa.

Brasil e Macau são os principais mercados exportadores do azeite do Lagar Cartuxa.

Bovinos, ovinos e Porco Alentejano

Pilar Vasconcelos diz que a Fundação tem cerca de 3.000 bovinos, com destaque para vacas Charolesas em linha pura, mais duas vacadas de Alentejanas, “que estão em dois espaços diferentes”, bem como uma outra vacada Alentejana que anda com um touro Charolês, para produção de carne.

As vacadas puras Alentejanas são também para produção de carne, nomeadamente os machos que são vendidos para recria e engorda, mas igualmente para venda de reprodutoras.

Os animais andam em prados semeados e pastagens, na sua maioria pastagens permanentes biodiversas, na maioria de sequeiro, mas também alguns de regadio, para poderem ter maior disponibilidade de comida na primavera e verão.

Os prados permanentes de regadio são, normalmente, consociações biodiversas de gramíneas e leguminosas perenes, vocacionadas para o pastoreio direto, mas que também permitem um corte para forragem na primavera caso haja necessidade.

São prados suportam cargas de três a cinco cabeças normais por hectare e que durante o período mais produtivo, a primavera, permitem ganhos médios diários a rondar os 2 kg/animal/dia em bovinos de carne.

A FEA tem também ovelhas Merino branco, que rondam os 4.000 animais, igualmente para produção de carne.

Fundação Eugénio de Almeida aposta na diversificação e aumento de área

Quanto ao Porco Alentejano, a Fundação tem cerca de 600 animais, comprando os leitões para engorda na Montanheira, em cerca de 1.200ha de montado de sobro e azinho, “principalmente em Torre de Coelheiros, onde andam também as ovelhas”, em parques separados. Mais recentemente, numa parceria com a Barrancarnes, a FEA decidiu produzir presunto, paleta e paio com marca Cartuxa, que, para já, se vende apenas Enoteca e no Enoturismo Cartuxa, em Évora.

Papoila, tomate e… amendoim

Começando pelo fim, o amendoim, garante o presidente do Conselho Executivo à VIDA RURAL, “é apenas uma experiência que estamos a fazer numa pequena escala”, e José Mateus Ginó acrescenta: “estamos a ver como a cultura se comporta e, se decidirmos avançar, certamente que o faremos em parceria, como já aconteceu com a papoila, o tomate para indústria, e até com o olival e o amendoal”.

Pilar Vasconcelos refere, por seu lado, que “este ano não conseguimos fazer papoila, porque as máquinas não conseguiam entrar nas terras na altura em que tínhamos de preparar o terreno e semear, mas fizemos nos dois anos anteriores e os resultados foram positivos”.

A Fundação está também a fazer tomate para indústria em parceria com uma empresa espanhola e José Mateus Ginó frisa que “estamos disponíveis para trabalhar com empresas nacionais, espanholas ou de outras nacionalidades, porque vemos com bons olhos parcerias que sejam vantajosas para ambas as partes. Fazemos sempre uma avaliação muito pormenorizada das novas oportunidades e soluções que nos surgem”.

O administrador executivo da FEA considera que “quanto mais oportunidades tivermos em cima da mesa melhores decisões podemos tomar”.

Anualmente “a Fundação faz também várias outras culturas, como colza (para óleo alimentar ou biodiesel), diversos cereais de outono-inverno, aveia, triticale tremocilha e outras misturas forrageiras para o gado” diz Pilar Vasconcelos, salientando que “depende muito dos anos, em alguns fazemos silagem, noutros mantemos os pastos naturais”.

Isto para além de produzir milho grão (que vende à GlobalMilho) ou para silagem para o gado, bem como fazer multiplicação de semente de girassol em parceria com uma empresa espanhola.

A cortiça é tirada de três em três anos e “a produção ronda as 25 mil arrobas”, afirma a engenheira agrónoma.

Uma produção marginal, mas que a Fundação mantém por indicação expressa do seu fundador, é a Coudelaria com ferro Eugénio de Almeida. “Temos 12 éguas Lusitanas, que são inseminadas com sémen de garanhões da Coudelaria de Alter, e vendemos os poldros, bem como cavalos para Toureio e Ensino”.

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