Projeto ‘Dar uma nova vida ao Tejo’ quer um Alqueva para o Ribatejo

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Foi apresentado, esta terça-feira [20 de Fevereiro], o “Projeto Tejo – Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Tejo e Oeste”, na Quinta da Lagoalva de Cima, em Alpiarça (Santarém). O projeto pretende ser uma referência ambiental e ter benefícios em muitos setores, além do agrícola, gerando riqueza no país.

Associado à rega de uma vasta área do território nacional, à sua drenagem, ao controlo das cheias e ainda ao controlo da cunha salina que sobe sobre o rio Tejo acima nos períodos mais secos, o projeto aponta para a navegabilidade do rio Tejo, com as vantagens daí decorrentes, nomeadamente ao nível do turismo, do lazer, da pesca, da aquacultura e do transporte fluvial, entre outros.

“Esta seca que nos assusta e estas alterações do clima que estamos a sentir terão consequências devastadoras se não alterarmos muitas das práticas correntes. O que pretendemos suscitar é um construtivo e alargado debate sobre a água e o Tejo. Sem água no Tejo, não há Ribatejo, e numa visão mais alargada, sem água no interior, é difícil combater o despovoamento com as dramáticas consequências que daí resultam”, explicou Manuel Campilho, presidente da Sociedade Agrícola da Quinta da Lagoalva de Cima, na abertura da apresentação deste projeto.

Estiveram presentes, não só alguns presidentes das associações de agricultores, como também autarcas, nomeadamente, Maria do Céu Albuquerque, presidente da Câmara Municipal de Abrantes, e Mário Pereira, presidente da Câmara Municipal de Alpiarça, que congratularam o projeto, e se mostraram surpreendidos pela escala do mesmo, avançando que irão reunir esforços para contribuírem de forma a que sejam congregadas vontades entre as várias entidades. “Há que trabalhar em conjunto, e esta é a oportunidade para se discutir este assunto”, defendeu Maria do Céu Albuquerque.

Manuel Campilho defendeu também o esforço visionário das diversas entidades envolvidas. “A Lagoalva vive, desde sempre, de braço dado com o Tejo, e pretende dar um modesto contributo para unir vontades. É preciso que pensemos na proteção e combate aos incêndios com a criação de zonas para armazenamento de águas, garantindo as chamadas descontinuidades florestais, como facilmente se entende. É também preciso pensar nas novas gerações garantindo o acesso à água com o consequente investimento nacional e estrangeiro”, referiu.

O Alqueva no Ribatejo?

Para o administrador da empresa, Miguel Campilho, este projeto pretende “dar uma nova vida ao Tejo, às pessoas que cá vivem e às que virão”, sublinhando os fins múltiplos que o projeto encerra. “Vai permitir, futuramente, a navegabilidade do Rio Tejo, e em termos turísticos, e potenciar de uma nova realidade no Ribatejo. A própria navegabilidade vai facilitar o transporte das mercadorias e de outros produtos. Vai potenciar, na região, as visitas, as dormidas, o enoturismo, os produtos regionais e a abertura a novos negócios. Essa navegabilidade permite uma vigilância constante para uma melhor qualidade da água e um controlo efetivo dos eventos poluidores”, afirmou. Além de trazer uma nova vida ao Tejo, os mentores acreditam que o projeto trará riqueza ao país. As vantagens são gerais e abarcam muitas áreas “não agrícolas”. É muito mais do que “apenas” agricultura, defenderam os responsáveis.

Em declarações à VIDA RURAL, Manuel Campilho adiantou que já houve reuniões com as entidades competentes, considerando que é necessário que “o Governo pense que este projeto deve ser implementado e disponibilize verbas para que haja um grupo de estudo que trabalhe e pense como é que este projeto vai começar”.

O secretário de Estado da Agricultura, Luís Vieira, o Professor Augusto Mateus, Manuel Campilho, Miguel Campilho e o Professor Francisco Avillez foram alguns dos participantes da apresentação do projeto

O secretário de Estado da Agricultura, Luís Vieira, o Professor Augusto Mateus, Manuel Campilho, Miguel Campilho e o Professor Francisco Avillez foram alguns dos participantes da apresentação do projeto

A ideia surgiu há muitos anos quando se começaram a sentir problemas de falta de água na Quinta da Lagoalva de Cima, o que exigiu consumos energéticos maiores, tendo surgido a necessidade de criar um reservatório grande. Este é o momento “indicado” para debater o tema, numa altura em que o país vive em seca tremenda e em que o Tejo está poluído por diversas razões, “como a falta de caudal”, disse o presidente.

Jorge Froes, engenheiro agrónomo de hidráulica, respondeu ao desafio dos irmãos Campilho para “trazer o Alqueva para o Ribatejo”, tendo sido responsável pela apresentação deste projeto, após meses de estudo e pesquisa histórica. “O projeto pretende ser uma referência a nível ambiental, por levar ao abandono progressivo das águas subterrâneas, permitir a recuperação das linhas de água e possibilitar a recuperação de zonas ambientais sensíveis, nomeadamente, pauis e salinas”, defende. O Alqueva foi então o projeto nacional de comparação que sustentou o plano desenvolvido para o Projeto Tejo, agora divulgado.

A nível agrícola, este projeto pretende combater a desertificação agrícola a que se tem assistido nos últimos anos, no Ribatejo e no Oeste, “onde, entre 1999 e 2009, a área das explorações agrícolas baixou 25%, de 720.000 para 550.000 hectares, fruto da falta de condições para uma agricultura rentável, o que só se consegue contrariar mediante a facilitação de acesso à água”, explica o engenheiro.

O projeto pretende assim equipar com um sistema de rega em pressão e distribuição a pedido, “uma área que poderá ir até aos 300.000 hectares, dos quais 260.000 hectares, no Vale do Tejo, e 40.000 hectares na região Oeste, integrando e modernizando, caso os mesmos o pretendam, os regadios coletivos já existentes, nomeadamente, Sorraia, Lezíria Grande, Carril, Alvega, Cela, Alvorninha, Sobrena, Óbidos e Liz”. Além disso, está prevista também a construção de novas barragens, nos rios Ocreza (Alvito), Ponsul e outros, e de açudes no Tejo.

O investimento global rondará aproximadamente 4500 milhões de euros, dos quais 1900 milhões de euros são inerentes ao sistema primário (barragens, açudes, estações elevatórias e adutoras), 2090 milhões de euros aos sistemas secundários (estações elevatórias e redes de rega) e 420 milhões de euros para sistemas complementares (drenagem, viário, elétrico e outros). “A curto prazo, a obra poderá arrancar, com a construção do Açude de Valada e de dois blocos de rega, a Norte e Sul, numa área total de 12.000 hectares, num investimento inicial na ordem dos 120 milhões de euros”, avançou Jorge Froes.

Principais conclusões da apresentação do Projeto ‘Dar uma nova vida ao Tejo’

  • Pretende-se suscitar um construtivo e alargado debate sobre a água e o Tejo;
  • É necessário envolver diversas entidades no esforço de desenvolvimento de um projeto que procure enquadrar as melhores soluções de aproveitamento da água do Tejo;
  • Há que juntar vontades para conceber e executar esse projeto, considerado decisivo para o País;
  • O projeto terá que ser inovador e assumir uma dimensão nacional e regional;
  • Trata-se de um projeto da maior importância estratégica, que fortalece as políticas de coesão;
  • O projeto terá que ser competitivo e sustentável em termos energéticos;
  • Torna-se fundamental a criação de uma estrutura que permita arrancar com o projeto;
  • Terão que se encontrar oportunidades de financiamento dos estudos necessários para a concretização do projeto em causa;

Nota: fotografia retirada do website da Câmara Municipal do Cartaxo

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