Os tripes em morangueiro: uma panorâmica sobre a sua presença e as estratégias de proteção da cultura

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Por Célia Mateus | Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, IP (INIAV)

Introdução

Os tripes, ou tisanópteros, constituem um grupo de pequenos insetos picadores-sugadores.

Algumas espécies são fitófagas, alimentam-se principalmente das partes tenras das plantas e podem ser pragas agrícolas. Muitas outras são micetófagas, consomem fungos e não lhes são atribuídos estragos relevantes.

Há ainda espécies que são predadoras e atuam de modo benéfico ao ajudarem a controlar populações de outros insetos e ácaros. Muitos tripes têm preferência por flores e usam o pólen e néctar como suplementos alimentares, acabando por atuar também como polinizadores.

O voo ativo é utilizado na deslocação em curtas distâncias dentro de uma cultura ou entre culturas vizinhas, já que os tripes são fracos voadores, mas arrastados pelo vento conseguem chegar muito longe.

Para além dos estragos que provocam quando inserem os ovos nos tecidos vegetais, no caso dos tripes fitófagos, há ainda a ação da armadura bucal picadora‑sugadora que inserem nos tecidos vegetais, injetando aí saliva tóxica.

Daqui resultam rebentos atrofiados, enrolamento de folhas, despigmentação, necrose e queda prematura de flores e folhas e frutos com manchas prateadas ou acinzentadas, com lesões suberificadas e fendas. Se a saliva estiver infetada com agentes patogénicos, como, por exemplo, o TSWV (Tomato spotted wilt virus) ou “Vírus do Bronzeamento do Tomateiro”, podem ocorrer doenças nas plantas.

Os tripes na cultura de morango

Os adultos são atraídos para as flores, onde se alimentam e reproduzem, e algumas larvas migram para os frutos jovens, onde se alimentam.

Daqui resulta o abortamento de flores e de frutos, bronzeamento das pétalas das flores e necrose do estigma e estames, bronzeamento dos frutos, os quais para além de feios, frequentemente, fendem e ficam mais suscetíveis a patogéneos, o que tem impacto negativo na sua comercialização.

Em Portugal, os prejuízos causados pelos tripes em morangueiro têm sido atribuídos principalmente à espécie Frankliniella occidentalis (Pergande) (Valério et al., 2005).

Sem dúvida que ela deve merecer a maior atenção, já que a sua presença numa cultura é sinónimo de perigo: é altamente polífaga, com muitas culturas e plantas adventícias como hospedeiras; apresenta uma taxa de crescimento populacional muito elevada; sobrevive numa ampla gama de temperaturas, e já é resistente a muitos inseticidas.

Contudo, trabalhos recentes, desenvolvidos principalmente no âmbito do projeto europeu Euberry e do projeto COMPETE “Cluster dos pequenos frutos”, revelaram que muitas outras espécies de tripes estão presentes em morangueiro, assim como noutras culturas de pequenos frutos (Serra et al. 2012, Mateus et al., 2015, Mateus, 2016).

Na primavera e verão, na cultura de morango, para além de F. occidentalis, encontraram-se em abundância espécies do género Thrips, como por exemplo, T. angusticeps e T. tabaci e, menos abundantemente, espécies dos géneros Anaphothrips, Ceratothrips, Chirothrips, Isoneurothrips, Limothrips, Melanthrips, Neohydatothrips e Tenothrips.

Destaca-se, ainda, a presença em abundância do género Aeolothrips, que inclui espécies predadoras de ácaros e de pequenos insetos. Aliás, a

diversidade de tripes nas culturas agrícolas é uma realidade, como também é evidenciado em estudos desenvolvidos em limoeiro, oliveira, tomateiro e cebola, no nosso País (Costa et al., 2006; Mateus et al., 2006; Rei et al., 2011; Mateus et al., 2012; Preza et al., 2016; Mateus et al., 2017).

(Continua)

Nota: Artigo publicado na edição n.º 22 do Suplemento Pequenos Frutos, publicado com a Revista Agrotec 26.

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