Espumantes com grande dinamismo e potencial de crescimento

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As ‘bolhinhas’ estão a seduzir os consumidores e a tendência de crescimento deverá acentuar-se, também na exportação. “A qualidade média dos espumantes nacionais cresceu loucamente”: “hoje pensa-se o Espumante desde a vinha”, afirma o enólogo das Caves São João. A produção alargou-se a várias regiões, com o Vinho Espumante a assumir diferentes perfis e conquistar novos momentos de consumo, como o verão.

“Na próxima década será a categoria que mais crescerá, a par dos vinhos doces naturais (Colheitas Tardias)”, defende José Carvalheira. O enólogo das emblemáticas Caves São João, na Bairrada, acrescenta que “os consumidores estão a pôr o Espumante na moda”.

Osvaldo Amado, enólogo de vários produtores como a Adega de Cantanhede e a Global Wines (Cabriz, Casa de Santar, Quinta do Encontro, entre outras marcas) acredita que “o mercado do espumante vai continuar a crescer” devido a vários fatores, como “a preocupação com a graduação alcoólica e a versatilidade de consumo”.

Orlando Lourenço, enólogo e administrador da Murganheira e Raposeira, salienta igualmente que “há um claro aumento da categoria desde há 20 anos, mas numa progressão muito lenta”.

Já o escanção Manuel Moreira considera que o crescimento tem sido feito “através de maior variedade, seja de estilos, dos perfis mais simples e focados na fruta, aos mais complexos, tal como edições especiais de quantidades limitadas”, mas “variedade também na proveniência, com o Alentejo, Beira Interior e Lisboa, alguns do Douro, a juntarem-se às mais tradicionais Bairrada, Vinhos Verdes e Távora-Varosa”.

Exportação deve ser aposta

Para o crescimento da categoria José Carvalheira salienta que será também importante aumentar a exportação, que hoje é muito pouco significativa. Divulgando Portugal também como país produtor de Espumante de qualidade, a par de Champagne em França, Prosecco em Itália e Cava em Espanha.

Uma opinião também secundada pelo administrador da Murganheira/Raposeira e por Osvaldo Amado que afirma: “Portugal é bom produtor de espumante, os franceses e italianos quando nos visitam ficam admirados com a relação qualidade/preço e reconhecem em nós grande qualidade mas falta divulgação e apoios das entidades oficiais para promover no exterior a categoria”.

O escanção Manuel Moreira salienta que “em geral, sendo que grande parte da produção tem no mercado doméstico o maior consumidor, deve-se certamente, também ao aumento do turismo. Muitos dos mercados emissores de turistas, são naturais consumidores de espumantes (Champagne, Cava e Prosecco), e olham para o espumante português como alternativa local a experimentar”.

“Hoje produzimos menos de 15 milhões de garrafas de espumante, mas com o aumento do consumo no mercado nacional e, principalmente para exportação, podemos vir a chegar às 20 milhões de garrafas nos próximos cinco a dez anos”, diz José Carvalheira

Qualidade cresceu “loucamente”

Osvaldo Amado diz à ENOVITIS que “dos vários produtos vínicos, o produto que mais tem evoluído são os espumantes em geral e os espumantes rosés em particular, como consequência do aumento do consumo” enquanto José Carvalheira considera que “a qualidade média dos espumantes portugueses cresceu loucamente”, acrescentando: “Hoje faz-se vinho base para espumantizar e vinifica-se convenientemente, mas há 20 anos pegava-se num vinho qualquer que tinha ‘sobrado’ e fazia-se ‘espumante’”. Para o enólogo, que também tem um projeto em nome próprio – Carvalheira Wine Creators –, “hoje pensa-se o espumante desde a vinha”.

Espumantes com grande dinamismo e potencial de crescimento

Também o responsável de produção das Caves Transmontanas (que produzem o icónico espumante Vértice do Douro) afirma que “a qualidade do espumante tem melhorado muito e o espumante está vender bem, com o mercado a mostrar-se mais refinado, pelo que o espumante já não é tão segmentado”. Celso Pereira diz-nos que “o público já sabe melhor o que vai comprar embora haja uma proliferação no segmento médio/baixo, mas no alto há uma maior especialização e desenvolvimento das técnicas” e frisa: “Como é o nosso caso que trabalhamos as castas nacionais (apenas 2% das variedades são internacionais), somos os ‘homens do espumante’, vivemos para e do espumante”.

Proliferação de marcas é bom e mau

Sobre o facto de existirem cada vez mais espumantes no mercado as opiniões dividem-se: por um lado, concorda-se que ajuda o público a estar mais desperto para a categoria, mas refere-se que pode contribuir para “estragar” o mercado em termos de preço.

Osvaldo Amado, responsável pela produção de mais de 30 espumantes, defende que “há zonas com mais aptidão para a produção de espumante, não é qualquer região que está apetrechada para a produção de Vinho Espumante”, como exemplo refere a Távora-Varosa e a Bairrada, mas também algumas mais atlânticas, como os Verdes e Lisboa (Bucelas), e até uma parte do Dão, mas “a massificação da produção não traz benefícios, importa ter algo que seja diferente”. E exemplifica: “Não estou a ver o Alentejo a produzir grandes espumantes, pelo que tendo em conta a relação preço qualidade seria talvez melhor para o produtor comercializar os vinhos como tranquilos e não estragar o mercado em termos de preço. Ninguém bebe mais espumantes pelo preço estar a 2,5€ em vez de 3,5€”.

Também o enólogo das Caves São João salienta que “tem-se generalizado a introdução da categoria no portefólio dos produtores mas ainda representa muito pouco. Há um crescimento da produção mas não é exponencial”.

Por seu lado, Celso Pereira afirma que “pode desempenhar um papel pois ajuda a divulgar a categoria e a abrir o mercado, que depois irá fazer a sua seleção”.

Método Tradicional Vs Charmat

O enólogo e administrador da Murganheira/Raposeira considera que “temos de refletir sobre este grande aumento da produção e na ‘facilidade’ que existe em fazer espumante”. Orlando Lourenço refere nomeadamente a não obrigatoriedade de colocar no rótulo quando o espumante é feito pelo Método Charmat e que “o espumante elaborado com leveduras imobilizadas/encapsuladas não devia poder ostentar no rótulo ‘Método Clássico’ ou ‘Método Tradicional’”.

Sobre a primeira questão, praticamente todos os responsáveis com quem falámos concordam, incluindo Luís Pato e Alexandrino Amorim, administrador das Caves do Solar de S. Domingos, a quem perguntámos especificamente o que achavam desta questão à margem de outras reportagens. “Concordo plenamente e acho que as entidades do setor deviam tomar medidas e fazer pressão nesse sentido”, afirma Luís Pato.

Segundo Orlando Lourenço a maioria dos espumantes nacionais das gamas de entrada e médias são feitas através deste método e não mencionar esse facto é enganar o consumidor. José Carvalheira adianta que “o consumidor devia ser também informado da data de dégorgement”.

“Portugal é bom produtor de espumante, os franceses e italianos, quando nos visitam, ficam admirados com a relação qualidade/preço e reconhecem em nós grande qualidade, mas falta divulgação e apoios das entidades oficiais para promover no exterior a categoria.”

No Método Tradicional ou Clássico o gás do vinho é criado por uma segunda fermentação em garrafa. Ou seja, primeiro fermenta-se o mosto para que ele seja transformado em vinho. Já com o vinho engarrafado, ocorre uma segunda fermentação, depois de acrescentadas as leveduras. No Método Charmat, mais recente, as ‘borbulhas’ também se devem a uma segunda fermentação, mas num grande tanque de inox (autoclave).

A principal diferença entre os dois métodos está no tempo de produção: no método tradicional são necessários vários meses para todo o processo; já no Charmat esse período pode ser reduzido para dias, o que, obviamente reduz bastante o custo.

Leveduras livres vs encapsuladas

Já na sua ‘cruzada’ de que o Espumante elaborado com leveduras encapsuladas não devia poder ser considerado ‘Método Clássico’ ou ‘Método Tradicional’, Orlando Lourenço está sozinho.

À exceção de Osvaldo Amado, que as usa no dia-a-dia em vários dos seus espumantes, os enólogos e responsáveis dizem-nos que não utilizam este tipo de leveduras, embora vários tenham feito experiências com elas. Todavia, todos consideram que o método é na mesma tradicional, sendo diferente apenas a forma de fazer a segunda fermentação e tendo José Carvalheira defendido que se poderia colocar no rótulo que o espumante foi elaborado com leveduras encapsuladas.

Osvaldo Amado – que usa este método em mais de 50% dos espumantes que elabora, com menos de 18 meses de estágio – considera este processo “revolucionário, um hino à inovação enológica e à investigação”, reconhece que “não está acessível a toda a gente”, mas defende que “é a técnica do futuro”.

O enólogo da Adega de Cantanhede e da Global Wines, entre outros produtores, adianta: “Faço experiências com leveduras encapsuladas há 25 anos e posso dizer que até tenho uma bolha mais integrada no vinho e melhor qualidade de finesse aromática”.

Método Tradicional com livres ou encapsuladas

Os espumantes com leveduras encapsuladas – em esferas de alginato – têm na mesma uma segunda fermentação em garrafa apenas não necessitam de remuage (processo para garantir que o depósito das leveduras livres é integralmente removido). Para tal, tradicionalmente as garrafas eram colocadas em pupitres onde eram rodadas e progressivamente colocadas na posição vertical invertida, para que o depósito se fosse aproximando do topo do gargalo, num processo que poderia demorar um mês (um processo que ainda se mantém hoje em muitas casas tradicionais produtoras espumante, agora só para os topos de gama).

Atualmente, este processo pode realizar-se em dois/três dias, em “giro paletes” que simulam a remuage antiga mas que permitem que se poupe tempo, espaço e mão-de-obra, pelo que muitos consideram não haver vantagem no uso das leveduras imobilizadas. Embora com estas o processo seja mesmo imediato, bastando virar a garrafa ao contrário.

Sobre a questão de os espumantes feitos com estas leveduras não deverem poder dizer no rótulo ‘Método Clássico’ ou ‘Método Tradicional’, defendida pelo administrador da Murganheira/Raposeira, Margarida Azeredo, do departamento do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) responsável pela rotulagem diz-nos que o artigo 66º do Regulamento (CE) nº 607/2009 determina que “as menções ‘fermentação em garrafa segundo o método tradicional’ ou ‘método tradicional’ ou ‘método clássico’ ou ‘método tradicional clássico’ só podem ser utilizadas na designação de vinhos espumantes com denominação de origem protegida ou com uma indicação geográfica de um país terceiro, bem como de vinhos espumantes de qualidade, e desde que o produto: a) Tenha sido tornado espumante por uma segunda fermentação alcoólica em garrafa; b) Tenha estado ininterruptamente em contacto com as borras durante, pelo menos, nove meses na mesma empresa desde a constituição do vinho de base; c) Tenha sido separado das borras por expulsão (dégorgement)”, adiantando que “não há qualquer menção ao tipo de leveduras”.

Nielsen confirma aumento do consumo

O Vinho Espumante (inclui Asti e Moscato, Champagne, Espumante e Vinho Espumoso) cresceu 17% em volume e 15% em valor nos últimos dois anos, segundo dados disponibilizados pela Nielsen à ENOVITIS. “Este dinamismo assenta essencialmente nos Espumantes Nacionais e nos Champagnes, registando estes últimos uma descida mais acentuada de preço médio do que os Espumantes Nacionais”, afirma Manuel Carvalho Martins, frisando: “esta tendência está naturalmente influenciada pelo nível de atividade promocional, que subiu bastante e que atingiu em 2017 praticamente os 50% das vendas totais de Vinhos Espumantes”.

O New Business Development Manager da consultora salienta que “o mercado de Vinhos Espumantes no canal Off Trade apresentou em 2017 um dinamismo de 9% em quantidade e 8% em valor, sendo este um resultado superior ao da média das Bebidas Alcoólicas (7% em valor)” adiantando que “esta categoria chega agora a 40% dos lares portugueses, tendo aumentado a sua penetração desde 2015, altura em que chegava a 36% dos mesmos”.

Segundo os dados da Nielsen, no ano passado os Espumantes venderam 8,1 milhões de litros, isto é 35,6 milhões de euros, o que representou uma subida de 21% em volume e de 19% em valor face a 2015. Já o Champagne comercializou 73,8 mil litros, no valor de 3,3 milhões de euros, ou seja um crescimento de 21% em quantidade e de 14% em valor em dois anos.

Verão ganha importância

Já o diretor de supermercados do El Corte Inglés refere que “há um interesse crescente na família dos Espumantes”, considerando que “cada vez se fazem melhores espumantes”. Paula Ferro, diretora de unidade de negócio Continente, diz-nos que “os consumidores têm revelado cada vez maior interesse no consumo de espumantes e entendemos que esta tendência é fruto, não só da aposta do Continente numa gama de qualidade e adequada ao gosto do consumidor, mas também da conquista de novos momentos de consumo deste tipo de vinho”. (Ver Caixa sobre o interesse das Cadeias nesta categoria)

“O espumante elaborado com leveduras imobilizadas/encapsuladas não devia poder ostentar no rótulo ‘Método Clássico’ ou ‘Método Tradicional’.”

A diminuição da sazonalidade é precisamente outra das caraterísticas da evolução do mercado de espumante em Portugal destacada pelos vários enólogos e especialistas com quem falámos. Todavia, Manuel Carvalho Martins lembra que “o consumidor português ainda tem uma tipologia de consumo deste produto muito relacionada com momentos de comemoração, pelo que a sazonalidade do final do Ano é bastante acentuada e representou 25% do consumo [em 2017], ainda que exista já alguma tendência de mudança de hábitos apresentando-se o Verão como outra altura de maior procura deste produto”.

Também Manuel Moreira refere que “a comunicação acerca da versatilidade, a vertente aspiracional de novas gerações de consumidores, os eventos vínicos e gastronómicos, têm contribuído para que se olhe para o espumante para além de celebrações natalícias ou equivalentes”. O escanção lembra que “a consciência do consumidor mais esclarecido para esta tipologia tem crescido, sendo as lojas de especialidade os melhores prescritores. O aconselhamento em relação a um produto com várias nuances e designações, por vezes pouco conhecidas, tem sido fator determinante na venda em valor e qualidade” e acrescenta: “O mesmo acontece no HoReCa. Hoje, muitos dos escanções integram nas suas cartas de vinhos cada vez mais espumantes, sendo muito úteis nas propostas de aperitivo e harmonização com os menus de degustação oferecidos. Não esquecer a proliferação de Wine Bars, local naturalmente predisposto a que esta tipologia de consumo”.

Cadeias apostam na categoria

Para aferir a posição das cadeias sobre a categoria Vinho Espumante falámos com duas insígnias: El Corte Inglés e Continente.

O diretor de supermercados do El Corte Inglés declara à ENOVITIS que “temos comprado mais espumantes de referências novas que se vendem mais consoante a importância do enólogo” e adianta: “Falamos de espumantes de topo de gama – que representam 70% das nossas vendas – porque senão as pessoas optam pelo Champagne”. Pedro Almeida diz ainda que “o crescimento médio anual da categoria ronda os 6%, mas alavancado nas gamas premium e super premium, cujo preço é acima de dois dígitos”.

Sobre a sazonalidade, admite que “o principal período de vendas é de outubro a janeiro mas sentimos que o consumo tem vindo a expandir-se para fora desta época tradicional, com a categoria a crescer todos os meses ao longo do ano” e destaca que “no caso dos espumantes da região dos Vinhos Verdes nota-se um pico de vendas no verão”.

Também Paula Ferro, diretora de unidade de negócio Continente, nos diz que “o Continente encara os espumantes como uma categoria com grande potencial de crescimento. A aposta nos últimos anos tem sido focada em três pilares principais: espumantes portugueses, incluindo reforço de gama regional; lançamento de novas referências num patamar mais qualitativo, fruto da parceria com vários produtores; e uma proposta de valor constante todo o ano, no sentido de ultrapassar a tradicional sazonalidade da categoria”.

A responsável adianta que “a consistência e relação qualidade/preço de algumas das novas propostas tem permitido que produtores não tradicionais de espumantes conquistem um papel importante na gama e comportamento da categoria”.

Nos últimos dois anos, Paula Ferro informa que “a performance de vendas de espumantes no Continente tem sido muito positiva, crescendo a dois dígitos. Em 2017 reforçámos os bons crescimentos que já haviam sido registados em 2016 e a perspetiva é que continue a crescer este ano”.

A diretora de unidade de negócio Continente refere ainda: “Temos observado uma tendência de redução da sazonalidade das vendas de espumantes nas épocas festivas. A performance de vendas desta categoria é agora mais constante durante todo o ano, notando-se um decréscimo do peso das vendas de dezembro, que chegou a pesar mais de um terço das vendas anuais. O período do verão, por sua vez, é cada vez mais um momento importante na venda e consumo de espumantes, representando atualmente cerca de um quarto das vendas anuais”.

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