Espargos verdes com grande potencial de crescimento

0

“O problema menor é a comercialização”, salienta o gerente da VillaBosque, que em 2016 decidiu apostar na produção de Espargos Verdes, no Ribatejo. Rui Paulo Sousa frisa que “as maiores dificuldades são a mão-de-obra e as pragas, principalmente os caracóis, que este ano afetaram 40% da produção”.

Depois de anos a gerir uma empresa de equipamento informático, Rui Paulo Sousa decidiu rentabilizar algumas terras de família que tinha na Lamarosa (Santarém) e formou a VillaBosque – Espargos Verdes do Ribatejo, em parceria com uma sobrinha. “Como é uma produção muito técnica contratámos um consultor francês, Christian Befve, que é considerado um dos melhores especialistas do mundo”. O consultor tem vindo a Portugal duas vezes por ano, mas o responsável está convencido que “assim que a produção entrar velocidade de cruzeiro já não precisaremos dele”.

Para poder concorrer ao PDR, em 2016, a empresa teve de se associar a uma Organização de Produtores (OP), “mas como não havia aqui na zona nenhum produtor de espargos – que eu conheça há alguns produtores individuais e alguns na Cooperativa Agrícola de Felgueiras – não foi fácil, mas acabei por ser aceite na Hortofrutícolas Campelos”.

Para estimular outros agricultores a produzirem espargos verdes e “ver se conseguimos começar a ganhar escala”, o gerente da empresa conta à VIDA RURAL que já está a dar workshops sobre a cultura dos espargos. Isto porque, apesar de exportar cerca de 70% da sua produção para Espanha, “tenho alguns contactos no mercado francês, que é o maior consumidor do mundo de espargos verdes, mas pedem-me sempre enormes quantidades que não tenho, por isso seria interessante haver outros produtores para nos juntarmos e dar resposta a esta procura que quer produto de qualidade”.

Qualidade e sabor

O solo onde tem os 10 hectares de espargos – inicialmente, em 2016 plantou 5,5 hectares que no ano seguinte aumentou para a atual área – “não é o melhor, para a cultura dos espargos verdes”, reconhece Rui Paulo Sousa, salientando que “como é calcário e pedregoso, obriga as plantas a esforçarem-se mais para romperem da terra”, mas, frisa, “que também por isso os nossos espargos têm um sabor caraterístico”. O terreno que é aconselhado é mais arenoso, produzindo em maior quantidade, ou seja em torna das oito toneladas por hectare, “enquanto aqui conseguimos entre 5,5 a 6 ton/hectare, mas, como já disse, temos espargos de maior calibre e com mais sabor”.

O responsável adianta: “Conseguimos também mais qualidade e sabor em relação a Espanha – por isso vendemos o produto a preço mais elevado que os produtores espanhóis – e mais ainda face aos maiores produtores mundiais: Perú e México. Também porque os espargos destes países têm de fazer longas viagens, nem sempre nas melhores condições, para chegarem aos mercados europeus, que são os maiores consumidores.

A China, que é igualmente grande produtora, exporta espargos para a Europa, mas em conserva e processados.

Por isso, a VillaBosque não teve dificuldade em conseguir um distribuidor em Espanha “que nos compra cerca de 70% da nossa produção”. Os restantes 30% dividem-se entre o Pingo Doce (25%) e lojas especializadas na região de Santarém. O distribuidor e o grupo Jerónimo Martins vêm buscar os espargos, ficando apenas a entrega às lojas locais a cargo do produtor.

Espargos verdes com grande potencial de crescimento

Rui Paulo Sousa, gerente da VillaBosque

Portugal ainda tem um consumo reduzido, “que deve rondar 8-10 toneladas/semana, concentrado principalmente nas zonas onde há a cultura gastronómica dos espargos selvagens – como no Alentejo, Ribatejo e grande Lisboa”, mas mesmo assim ainda importa produto, estimando-se que as importações nacionais de espargos verdes rondem cerca de um milhão de euros por ano. Em termos de consumo “em Espanha deve rondar as várias centenas de toneladas por semana e França, o maior consumidor, importa cerca de 1.500 toneladas/ano”.

Antecipar produção para ter melhor preço

Os espargos verdes podem ser semeados, mas aí “teria de se esperar, pelo menos três anos para se começar a colher, por isso, normalmente plantam-se garras de espargos, ou sejam, raízes que se compram em viveiros que têm plantas certificadas, principalmente na Holanda”, explica-nos Rui Paulo Sousa acrescentando: “assim consegue-se uma primeira colheita logo no ano seguinte, embora de apenas um mês, e no segundo ano já se podem colher durante dois meses, passando aos três meses normais da campanha no terceiro ano”.

A VillaBosque apostou em duas variedades desenvolvidas pelo Limgroup holandês – a Gijnlim (mais precoce) e a Portlim (mais tardia) – “para podermos alargar o período de produção, principalmente entrar no mercado mais cedo, conseguindo melhores preços”. O gerente da empresa adianta que “são variedades híbridas e só vendem plantas macho, que não se reproduzem e têm uma maior produtividade”.

O responsável diz-nos ainda que “a planta do espargo produz durante cerca de dez anos e depois morre. Aí temos de voltar a plantar garras, mas não no mesmo local, podemos fazê-lo na entrelinha, por exemplo, colocando aí os camalhões”.

Espargos verdes com grande potencial de crescimento

Espargos verdes com grande potencial de crescimento

A produção de espargos da VillaBosque está em produção integrada, “pelo que usamos a menor quantidade possível de herbicida para controlar as infestantes”, a exploração tem rega gota-a-gota (mais abundante nos primeiros anos) e os nutrientes são dados por fertirrega. “Apesar de já não estarmos a produzir espargos, nesta altura em que a planta já está muito espigada – final de maio/início de junho – mantemos a fertirrega, que tem principalmente azoto, potássio, magnésio e fósforo, entre outros nutrientes, até final de julho/início de agosto e a rega até setembro”, explica o gerente da empresa. Em dezembro, quando a planta já está seca, “passamos com o destroçador e desfazemos tudo, deixando os restos no terreno. Depois, os espargos recomeçam a nascer no final de janeiro/início de fevereiro (aqui no Ribatejo)”.

O custo de produção (produção, apanha, preparação, embalamento e transporte) ronda os 2,5-3€/kg.

Uma planta que se vê crescer

Na altura da colheita, “que este ano começou no final de janeiro, a planta cresce continuamente a partir dos 13° no solo, mas o ideal são temperaturas em torno dos 14°/15°, e é das poucas plantas que se nos sentarmos a olhar para ela claramente a vemos crescer porque ganha 17/18cm em 24h”, assegura Rui Paulo Sousa. A colheita é feita quando o espargo atinge mais de 25cm, e tem de ser toda manual.

Este ano, apesar das chuvas concentradas em março, “não tivemos problemas de encharcamento porque temos os camalhões e o terreno tem boa drenagem, e ainda bem porque um dos problemas mais comuns nos espargos verdes é o fusário que aparece pelo excesso de água”. Mas o gerente da VillaBosque salienta que “o maior problema foram os caracóis, quando nos apercebemos já estava tudo infestado e causou-nos prejuízos em cerca de 40% da produção, pelo que comeram ou picaram. Ou seja, de uma campanha com cerca de 20 toneladas, comercializámos apenas 12 toneladas em fresco”. E como não há muitas opções químicas para os matar, a solução é retirá-los à mão, o que implica custos elevadíssimos em mão-de-obra. Para a próxima campanha, o responsável diz-nos que “a aposta é limpar o terreno o mais possível de infestantes e mantê-lo assim, para afastar os caracóis”. Dos espargos picados, Rui Paulo Sousa conta que “ainda acabámos, já mais para o fim da campanha, por vender alguns para a agroindústria, para sopas, mas com uma valorização muito baixa”.

Dada a velocidade de crescimento da planta, a apanha dos espargos tem de ser diária nos três meses da campanha (caso contrário espiga) e o responsável da empresa – que durante o ano tem apenas um colaborador fixo –, salienta que “para as cerca de 12 pessoas que precisamos na campanha, fazemos alguns contratos diretos mas também recorremos a empresas de trabalho temporário (que nos enviaram, por exemplo, indianos), porque é muito difícil arranjar pessoal, de confiança” e adianta: “chegou-nos a acontecer pessoas irem almoçar e já não voltarem à tarde”.

Entregar os espargos prontos para consumo

O gerente da VillaBosque explica à VIDA RURAL, que “para além da produção, decidimos apostar logo também na preparação e embalamento, para podermos entregar os espargos prontos para consumo”. A pensar nisso encomendou em França um equipamento de hidrocooling – para onde os espargos vão quando vêm da colheita, para receberem um choque térmico com água gelada que lhes permite maior capacidade de conservação –, uma máquina que corta, lava e separa automaticamente os espargos por calibre e também uma câmara frigorífica. No total, o investimento com as garras de espargos (raízes), a plantação, as instalações e o equipamento rondou os 400 mil euros”.

Os calibres comercializados são o M (08/12mm) mais apreciado pelo mercado inglês e que se assemelham aos espargos selvagens, o L (12,16mm), mais para o mercado nacional, e o XL (16,20mm), que o mercado espanhol prefere. Rui Paulo Sousa refere que “os espargos verdes cultivados são mais doces face aos selvagens que são mais amargos”.

Espargos verdes com grande potencial de crescimento

O preço dos espargos depende do calibre mas “ronda os 4-5€/kg, o que, apesar de ser um bom preço, quando comparado com o preço de venda ao público que ronda os 14-15€/kg (cerca de 3,99€ o molho de 250gr), demonstra que a principal mais-valia não fica com quem tem o risco todo”.

Os espargos da VillaBosque (vendidos no mercado nacional com a marca da empresa ou, para Espanha, com a marca do cliente) ficam até dois dias na câmara de frio, são transportados sempre em veículos refrigerados e têm uma vida de prateleira de três semanas.

A empresa tem certificação GLOBAL G.A.P. e também GRASP, ou seja, como as boas práticas agrícolas não são apenas sobre produtos, mas também sobre pessoas, os “nossos membros desenvolveram o GRASP, um produto complementar GLOBALG.A.P. +”, explica-se no site da certificação, adiantando que “GRASP significa GLOBALG.A.P. Avaliação de Risco na Prática Social, e é um módulo voluntário pronto para ser usado, desenvolvido para avaliar as práticas sociais na exploração, abordando aspetos específicos da saúde, segurança e bem-estar dos trabalhadores”.

Plantar physalis para rentabilizar equipamento

A nova aposta da VillaBosque são as physalis: “É um produto também com muito boa valorização – que ronda os 16€/kg de PVP – e que podemos intercalar bem com os espargos”, explica-nos Rui Paulo Sousa.

O gerente da empresa conta que “vamos começar a plantar, agora em junho, em quatro hectares de terra que ainda temos disponível aqui, entre 5.000 a 6.000 plantas, que vêm de um viveirista nacional” e adianta que “o objetivo é em novembro/dezembro já colhermos physalis, antes de começarmos a ter espargos, em fevereiro, e assim podermos rentabilizar o equipamento de lavagem e calibragem, bem como a câmara de frio e, assim podermos dar emprego aos colaboradores também durante mais tempo”, bem como aproveitar igualmente os canais de distribuição já criados com os espargos.

A VillaBosque ficará assim cerca de meio ano dedicada a cada cultura.

Ler Artigo Original

Partilhar

Sobre o autor

Comentários fechados.

Powered by themekiller.com