Enoturismo: “Em Portugal temos vantagens acrescidas porque somos muito diversificados, mas é preciso construir a oferta”

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O Enoturismo já é um dos segmentos mais apetecíveis do setor vitivinícola em Portugal, com cada vez mais projetos turísticos a serem alocados a essa área. Mas falta criatividade e diversificação. Rui Martins, da Maktree, explicou-nos em que é que os empresários nacionais ainda têm que trabalhar, mas garante: “já fazemos muito em Portugal”.

Em que moldes é que o enoturismo nacional pode ser mais criativo?

Pode parecer um lugar-comum, mas as pessoas que estão ou querem estar no Enoturismo é que têm que ser mais criativas. Como em qualquer sector parece-me fundamental utilizar todas as ferramentas que se tornaram obrigatórias quando se procura ter um negócio que procure atrair pessoas, recebê-las e proporcionar uma experiência, sendo que estas são pessoas com critérios, graus de experiência e conhecimento díspares e ambições muito específicas.

Será também importante diversificar e flexibilizar a oferta, olhar para o enoturismo como um todo e não apenas como algo que pertence a uma propriedade, e isso obriga ao trabalho em equipa com outros parceiros locais fazendo aumentar o espaço da experiência para além das fronteiras de cada um.

Manter, promover e comunicar o que é único e genuíno, contar a ‘história’ de forma natural e envolvente utilizando todos os elementos que sejam verdadeiramente úteis e depois saber adaptar aos diferentes estilos de enoturistas.

Aceitar que o enoturismo é uma experiência emocional, sensorial e inesquecível com capacidade de retorno por muitos e longos anos, logo necessita de imagens fortes, e de trabalhar para chegar aos mais jovens também.

Que outras atividades é que se podem promover, para além da mera prova de vinhos, para alcançar uma relação de maior proximidade com os consumidores?

É sempre importante observar o que os outros fazem e saber tirar conclusões, saber adaptar, perceber qual a dimensão correta da oferta, qual o preço ou custo a praticar.

Há vários países que já identificaram este sector como estratégico e já o trabalham há mais tempo com sucesso. O aspiracional que os países e os seus vinhos já têm é muito importante para a estrutura da oferta. Sem oferta não há produto/serviço logo não há promoção.

Existem vários exemplos na Europa, nos EUA, no novo Mundo e na América do Sul que permitem perceber as vantagens da criação da cadeia de valor, os benefícios prolongam-se por muito tempo, a fidelização/memorização atinge-se de forma natural.

As atividades por norma já existem, devem ser parte do património da região, da zona, da aldeia ou do lugar, o que falta é dar a conhecer essas atividades, ou melhor informar que essas atividades estão disponíveis, são interessantes e vão melhorar a experiência.

O que remete para a base do enoturismo, ou seja o vinho, para as emoções que ele conseguiu provocar quando foi provado, para o grau de conhecimento que já existia, tudo isto são sentimentos e emoções facilmente traduzidos num filme passado em Napa Valley onde identificamos um dos segmentos dos enoturistas.

É certo que não temos uma indústria cinematográfica proporcional em dimensão e capacidade de se promover , mas temos que pensar no audiovisual como uma ferramenta importante, na Web como uma primeira imagem de nós próprios, nos meios digitais e impressos como uma mensagem nossa e, claro está, ter vontade de delegar e aceitar novas ideias.

É importante pensar em estratégias concertadas para mobilizar as pessoas, para as motivar a virem conhecer, experimentar, sentir, fazer parte do cenário. Em Portugal temos vantagens acrescidas porque somos muito diversificados e a dimensão ajuda, mas é preciso construir a oferta e fazer com que essa oferta chegue às pessoas. Isto obriga a compromisso, empenho e necessita de profissionais.

Como e quando é que um empresário agrícola deve tomar a decisão de investir em enoturismo? É uma atividade que exige alguma capacidade de investimento e gestão…

A partir do momento em que ele identifica o enoturismo como mais uma atividade que lhe pode trazer vantagens. É a partir daqui que se deve desenrolar o processo, não é diferente de outras decisões que ele já foi obrigado a tomar. As partes do todo já lá estão, isto na maioria dos casos. Creio que a oportunidade também. É o conciliar de um espaço, de uma história e de uma atividade apaixonante como é a produção de vinho, com a arte de receber bem, prestar um bom serviço que resulte numa boa experiência.

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A minha experiência nesta área permite-me dizer com segurança que as vantagens são muitas, a vários níveis, e duradouras, mas utilizando um paralelo que quem está no sector do vinho de forma consciente reconhece, é importante o ‘enólogo’ para apoiar, para promover, para ajudar a decidir, para ajudar a desenvolver e a crescer.

O que é que se está a fazer a nível internacional nesta área e o que é que os empresários portugueses podem aprender com as experiências de enoturismo internacionais?

Antes temos que capitalizar e criar valor em torno do que temos. Isto não se traduz apenas em mais ou menos euros. Acho que estamos a trabalhar nesse sentido, mas o caminho é longo.

Temos as ferramentas, temos know-how, mas precisamos da consistência e do reconhecimento. Ao analisarmos o impacto destas duas últimas palavras – consistência e reconhecimento- rapidamente percebemos para onde temos de ir.

As estatísticas indicam que o país onde há mais enoturistas percentualmente é França, no entanto, existe um grande número de eno+turistas de outras origens mais longínquas que procuram descobrir e conhecer mais sobre vinhos. Já existe o mercado, já existem os enoturistas e os eno+turistas, ou as pessoas que querem descobrir onde e como se faz vinho, e procuram provar o que é típico da região.

Será quase improvável em Mosel encontrar algo mais do que Riesling. Todos os restaurantes, supermercados, hotéis e outros agentes económicos locais ‘defendem’ a sua dama. Isto só é possível porque todos aceitam os benefícios que esta casta em particular traz para todos. No fundo, acho que a criação ou reforço desta consciência comum é um bom exemplo a seguir.

É importante referir que já existem regiões em Portugal a pensar desta forma. A privilegiar o que é regional, defender o que é local sem obviamente entrar em desequilíbrios. É em minha opinião uma reflexão importante.

Claro está, existe o fator aspiracional, aquele que leva um casal famoso de Hollywood a comprar uma vinha. Na minha perspetiva este é o objetivo a atingir porque ele conjuga todos os fatores e só por si alavanca toda a oferta. Já fazemos muito em Portugal, mas temos ainda um grande caminho pela frente. É importante aproveitar esta fase em que somos muito procurados para passar a mensagem e trabalhar em equipa com estratégias de médio/longo prazo.

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