Retalhistas reforçam poder negocial junto dos produtores

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O Grupo DIA anunciou esta quinta-feira (30 de agosto) que se irá juntar à central de compras internacional Horizon International Services, plataforma lançada em julho deste ano e que reúne também a Auchan Retail, o Casino Group, o Metro e o Schiever Group. Fora deste acordo deverão ficar os produtos de marca própria e os frescos.

A aliança carece ainda de um parecer positivo dos reguladores, mas a concretizar-se permitirá ao Grupo DIA aumentar “o poder negocial e competitividade nas relações com os grandes fornecedores de marcas de fabricante”. A Horizon defende que a sua meta é “ajudar os retalhistas a negociar as condições de serviços internacionais com as grandes marcas e fornecedores”.

Já no início de julho, a Tesco e a Carrefour anunciaram também uma aliança estratégica para aumentar o poder negocial junto dos fornecedores, diminuir os custos e ao mesmo tempo baixar os preços oferecidos aos consumidores.

Em declarações à VIDA RURAL, Pedro Pimentel, Diretor Geral da Centromarca, diz que este acordo “não é algo que não fosse previsível e vai interferir com o mercado”, nomeadamente com o português. De acordo com Pedro Pimentel, desde que a Cindia, central de negociação de compras conjunta do DIA e do Intermarché, foi desmantelada, era “expectável que isto fosse acontecer”. Esta decisão, a somar-se às mais recentes mudanças na estrutura administrativa do Grupo DIA, “são dois movimentos que levam a pensar que se calhar o Grupo precisava de uma mudança”, defende.

Para o Diretor Geral da Centromarca, este acordo é também “uma resposta dos operadores ao que está a acontecer no mercado do e-commerce”. “Muitos destes acordos partem de um receio do que pode ser a evolução do digital. Tem-se falado da entrada da Amazon em alguns destes mercados…Pode ser uma forma de conseguir criar capacidade defensiva face a este tipo de operadores”. “Há um acomodar dos operadores a estas centrais, sendo que para já não se sentirá impacto junto dos consumidores, mas sim junto dos fornecedores”.

O representante das marcas em Portugal diz que “ainda há muito a fazer”, nomeadamente ao nível da regulação, para proteger os produtores/fornecedores deste tipo de práticas de comércio “agressivas”. “As leis protegem o consumidor final e as autoridades agem quando algo afeta a frente de loja. Neste momento, a legislação a este nível é muito débil. Podemos pensar que no imediato o consumidor irá beneficiar, com uma eventual diminuição de preços, mas se diminuírem o número de operadores [fornecedores/produtores], estamos a criar condições para a criação de monopólios, que não são positivos”.

Pedro Pimentel não coloca de parte a hipótese de este tipo de acordos poder vir a concretizar-se também com os grandes players do mercado da distribuição em Portugal – a Jerónimo Martins e a Sonae. “Não seria surpresa se outros acordos destes se repetissem”, conclui.

Nos últimos anos a União Europeia tem vindo a apertar o cerco às práticas de comércio desleais. Já este ano, o Comissário Europeu para a Agricultura, Phil Hogan, defendeu durante a sua intervenção no Forum for the Future of Agriculture, em Bruxelas, que é preciso “reforçar a posição dos agricultores na cadeia de abastecimento alimentar europeia”.

Jyrki Katainen, Vice-Presidente da Comissão Europeia para as pastas de Emprego, Investimento e Competitividade, disse também que “existem desequilíbrios no poder de negociação na cadeia de abastecimento alimentar e esta proposta da Comissão pretende abordar estas práticas injustas. Agimos porque uma conduta de negócio injusta prejudica a viabilidade económica dos operadores da cadeia”.

Neste âmbito, foi apresentada uma proposta legislativa para reforçar a proteção dos pequenos e médios agricultores. Em causa estão práticas como pagamentos tardios a fornecedores de perecíveis, cancelamentos de última hora, mudanças unilaterais em contratos e a obrigatoriedade de pagamento por parte dos fornecedores de produtos desperdiçados. A Comissão Europeia pretende ainda implementar uma política de sanções, que serão definidas pelas autoridades nacionais de cada país, para aqueles que não cumprirem as regras estabelecidas na normativa europeia.

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