Podem as abelhas resolver o problema causado pelo excesso de néctar na framboesa?

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Por Mário Reis | Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, Faro

As flores da framboesa produzem por vezes uma abundante quantidade de néctar no qual se podem desenvolver fungos e bactérias que desvalorizam os frutos.

É suposto que as abelhas possam contribuir para reduzir este problema, pois na sua actividade, além de pólen, recolhem também o néctar. Contudo, poderão as abelhas ser eficazes na resolução deste problema, conseguindo reduzir o néctar em excesso?

O néctar é constituído sobretudo por água e açucares recebidos do floema pelos nectários.

As flores da framboesa (Rubus idaeus L.) produzem néctar em quantidade variável com o seu estado fenológico, hora do dia e factores ambientais, e emitem-no através dos nectários, segundo processos complexos, ainda não completamente esclarecidos.

Uma das explicações, aplicável a diferentes tipos de nectários – quanto à sua morfologia, anatomia, existência ou não de estomas modificados e sistema vascular – indica que o movimento do néctar para a superfície é um movimento em massa segundo um gradiente de pressão (Vassilyev, 2010).

A emissão de néctar na flor da framboesa ocorre desde antes da sua abertura até terminar a deiscência do pólen, mas algumas cultivares emitem néctar em quantidade importante até mais tarde, mesmo depois da deiscência das anteras (Bataw, 1996).

A produção de néctar é abundante e em maior quantidade de manhã e ao final da tarde, com uma concentração de açúcares inversamente relacionada com o volume de néctar emitido (Schmidt et al., 2012), mas ocorrem diferenças significativas entre cultivares relativamente ao volume e ao padrão de emissão (Willmer et al., 1998).

Em cultivo sem solo em estufa no Algarve, duas cultivares de framboesas emitiram mais néctar quando as pétalas começaram a abrir, diminuindo progressivamente até uma produção residual quando as anteras começaram a secar (estado H) (Brito et al., 2019).

O volume de néctar produzido por flor pode atingir 17,5μL dia-1 (Whitney, 1984) ou 14mg dia-1 (Pesson e Louveaux, 1984), mas com acentuadas diferenças entre cultivares.

Condições ambientais, como a humidade relativa do ar junto das flores, afetam a produção e concentração do néctar: com maior humidade do ar é emitido mais néctar mas menos concentrado (Shuel, 1955; Bataw, 1996).

Dos insetos que recolhem néctar e pólen destacam-se as abelhas (e.g.: Apis spp.) e os abelhões (e.g.: Bombus spp.), com diferente comportamento na recolha, e no nível de actividade em função das condições ambientais.

Os abelhões trabalham com maior eficiência pois selecionam as flores mais jovens (mais produtivas em néctar) sobretudo no início da manhã (altura de maior emissão de néctar); estão activos durante mais tempo e sob condições meteorológicas desfavoráveis; visitam mais flores por unidade de tempo; colocam mais pólen nos estigmas das flores, para além de conseguirem transportar o polén a maiores distâncias, até 60 m versus 35 m pelas abelhas, em framboesa cultivada ao ar livre, na Escócia (Bataw, 1996).

(continua)

Nota: Artigo publicado na edição impressa do Suplemento Pequenos Frutos 27.

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Fonte: Agrotec

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