Co-shaping the digital (r)evolution in Agro-Food and Forestry

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Nesta entrevista a André Sá, responsável do TEC4AGRO-FOOD, falaremos sobre os principais projetos de investigação e inovação na área ‘agro’, em parceria com empresas do setor. Fique a conhecer a história da TEC4AGRO-FOOD.

Porquê o investimento em investigação e inovação na área ‘agro’?

Tudo começou quando no início de 2014 foi pedido aos Gestores de Desenvolvimento de Negócio do Serviço de Apoio a Parcerias Empresariais (SAPE) do INESC TEC para escolherem uma área de inovação para ficarem responsáveis. E foi nesta altura que, fruto da minha experiência profissional no agroalimentar, do gosto pelas temáticas e ciente de que o desafio da segurança alimentar e sustentabilidade da agricultura e floresta, num contexto de bioeconomia, se tratava de um dos desafios societais mais importantes para o futuro da humanidade, optei por escolher a que mais tarde se viria a designar por TEC4AGRO-FOOD, a área de inovação do INESC TEC para o Agro-Alimentar e Floresta, cujo mote é “Co-shaping the digital (r)evolution in Agro-Food and Forestry”.

Qual foi o next step?

O passo seguinte passou pelo levantamento interno dos projetos e investigadores envolvidos na área. Havia mais de 50 projetos e investigadores no âmbito da TEC4AGRO-FOOD, ainda que, com raras exceções, estes projetos fossem relativos às competências de um determinado Centro de I&D do INESC TEC, que tem 13 Centros de I&D, e não transversais às competências do INESC TEC, retirando-lhes, por isso, abrangência.

De realçar também o contacto com o SAPE, na altura, por parte do investigador Filipe Santos, do Centro de Robótica Industrial e Sistemas Inteligentes (CRIIS), que, a partir da experiência no desenvolvimento de soluções robóticas para a indústria, se viria a revelar fundamental para a TEC4AGRO-FOOD, nomeadamente através da criação do Laboratório de Robótica na Agricultura e na Floresta, e da linha de plataformas robóticas AgRob, constituída atualmente pela AgRob V14 e AgRob V16, para Viticultura de Encosta, e AgRob V18, para a Floresta. O CRIIS constitui um “platform enabler” para os outros Centros de I&D do INESC TEC, através da recolha de dados que permitem o desenvolvimento de soluções de Inteligência Artificial, do desenvolvimento de plataformas robóticas que permitem testar os mais avançados sensores e do desenvolvimento de atuadores que permitem testar e validar as cartas de prescrição fornecidas por sistemas de apoio à decisão, ligando o mundo físico ao mundo computorizado. O sucesso obtido pela equipa do investigador Filipe Santos em candidaturas/propostas a projetos, designadamente com empresas e internacionais, contribuiu também em muito para a área.

Como é que conseguiram envolver os players externos?

A estratégia passou por uma forte participação em eventos relevantes para a TEC4­AGRO-FOOD, procurando perceber quais os principais players e necessidades e desejos dos setores em causa. De referir que, inicialmente, a presença do INESC TEC nesses eventos causava alguma perplexidade: “Instituto de Computadores?!? Aqui?!?”. Fiz o curso de Introdução à Agricultura de Precisão, lecionado pelo Prof. Ricardo Braga, a quem afetuosamente costumo chamar de ‘o Rui Veloso da Agricultura de Precisão’, e este curso revelou-se também muito importante na aquisição de competências e contactos na área. As agendas estratégicas de investigação e inovação, como sejam a da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Horizonte 2020, Standing Committee on Agricultural Research (SCAR) e Food and Agriculture Organization (FAO), foram essenciais para perceber os principais desafios que os agricultores/produtores florestais enfrentam atualmente, nomeadamente a intensificação sustentável da produção, alterações climáticas, pragas e doenças e uso racional dos recursos.

Depois desse estudo e análise, o que concluiu?

A boa notícia foi que a (r)evolução digital em curso no Agro-Alimentar e Floresta, passava pelas tecnologias digitais, Internet das Coisas (IoT – Internet of Things), Inteligência Artificial, Robótica e Big Data, tudo tecnologias nas quais o INESC TEC tem competências: Robótica, Automação, Sistemas Inteligentes (Redes de Sensores, …), Gestão de Operações, Logística, Ciência dos Dados, Sistemas de Apoio à Decisão, Sistemas de Informação Geográfica, Processamento e Análise de Imagem, Sensores Óticos, Redes de Comunicações e Sistemas de Energia Inteligentes. Assim, a TEC4AGRO-FOOD atua em todas as fases do ciclo de Agricultura/Floresta de Precisão (“momento certo, quantidade certa, local certo”) Inteligente (tecnologias digitais). A segurança alimentar e a bioeconomia fazem também parte do âmbito da TEC4AGRO-FOOD.

Também foram à procura de parceiros?

Necessitávamos de encontrar um parceiro com competências complementares, nomeadamente ao nível da investigação no Agro-Alimentar e Floresta, e encontrámos esse parceiro no Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), nomeadamente através do envolvimento do Dr. João Ribeiro Lima. Após a realização de um 1.º Encontro de Investigadores do INIAV e INESC TEC, em que se lançaram as primeiras pedras para colaborações futuras, que rapidamente se concretizaram e têm vindo a concretizar, foi assinado um protocolo de colaboração entre as duas instituições na Agroglobal 2016. Estão em curso contactos com outras instituições, como sejam o Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e COTHN – Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional, para o estabelecimento de parcerias similares.

Ao nível dos eventos nacionais, a Agroglobal e o AgroIN revelaram-se os mais relevantes para a atividade do INESC TEC na área ­TEC4AGRO-FOOD, passando o INESC TEC a marcar presença assídua nos mesmos, nomeadamente em termos de exposição no Pavilhão da Tecnologia e apresentações no Tech Stage, no caso da Agroglobal, e com keynote speakers, no caso do AgroIN, podendo falar-se no estabelecimento de verdadeiras parcerias. A presença na Agri Innovation Summit 2017 e na AGRO INOVAÇÃO 2018 – Cimeira Nacional de Inovação na Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, revelaram-se também boas apostas.

De salientar a organização de eventos TEC4­AGRO-FOOD pelo próprio INESC TEC, nomeadamente no âmbito de projetos em que participe, como foi o caso do workshop BIOTECFOR – Máquinas e Alfaias Florestais, destinado ao debate das necessidades e desejos de inovação nas máquinas e alfaias dedicadas à limpeza florestal e recolha de biomassa, tema tão crítico em Portugal, dado o risco de incêndios rurais.

E do lado empresarial?

Nesse ponto, a HERCULANO, muito por iniciativa do Eng.º Ricardo Teixeira, revelou-se um parceiro ideal para o INESC TEC enquanto Tomador de Tecnologia, ou seja, uma empresa com capacidade para endogenizar uma tecnologia desenvolvida pelo INESC TEC e para a qual podemos transferir essa tecnologia, após a demonstração do protótipo do sistema em ambiente operacional. No seguimento dos primeiros contactos, em 2017, o INESC TEC iniciou uma prestação de serviços para apoio técnico à HERCULANO em sistema Débito Proporcional ao Avanço (DPA) para espalhador de estrume (sem ISOBUS) e sistema DPA e análise química (sensor Near Infra-Red – NIR) para cisterna em ambiente ISOBUS, tendo o protótipo sido apresentado na Feria Internacional de la Maquinaria Agrícola (FIMA) 2018 e demonstrado na Agroglobal 2018. De referir que nesta feira foi assinado um protocolo de colaboração entre a HERCULANO e o INESC TEC. Seguiu-se o projeto SMART FERTILIZERS – Cisternas para fertilização de precisão em contexto de agricultura 4.0, atualmente em curso, para uma maior incorporação de tecnologias digitais nas cisternas.

Passámos, assim, de praticamente desconhecidos para, de certa forma, sermos uma referência nacional enquanto entidade de I&DT no Agro-Alimentar e Floresta.

Quais são os principais desafios?

Um dos desafios que se colocam atualmente à TEC4AGRO-FOOD prende-se com a retenção e atração de recursos humanos com competências em tecnologias digitais, fruto da elevada procura que estes têm, ao nível nacional e internacional, nomeadamente por empresas envolvidas na transição digital da sociedade. Já do lado do mercado, o reduzido número de empresas nacionais potenciais Tomadoras de Tecnologia e a falta de aposta destas na investigação e inovação, constitui um problema. Se em termos de software a situação é mais favorável, dadas as menores barreiras à entrada e saída neste setor, em termos de equipamento e hardware, a situação é mais crítica, pelos investimentos necessários. O INESC TEC tem encetado esforços no sentido de poder replicar, noutras áreas de aplicação e com outros Tomadores de Tecnologia, o percurso que tem sido seguido, com sucesso, com a HERCULANO.

A adoção das tecnologias digitais pelos agricultores/produtores florestais, requer novas competências e conhecimento por parte destes e consultores. Dar a conhecer as tecnologias e organizar treino a um nível regional/local é crucial, nomeadamente para chegar às pequenas e médias explorações, onde o uso das tecnologias digitais nem sempre é encarado como rentável. O desenvolvimento de ferramentas de análise de dados específicas, com um foco especial nos custos/benefícios, pode auxiliar os consultores a desempenhar um papel fundamental na informação aos agricultores/produtores florestais, ao nível das tecnologias digitais. Obviamente que, para se tirar proveito de todo o potencial das tecnologias digitais, é essencial o acesso a internet de banda larga em zonas rurais ou a emergência de soluções tecnológicas que permitam a comunicação de grandes quantidades de dados em zonas remotas. Finalmente, para o desenvolvimento de tecnologias user-friendly, os investigadores e business developers deverão trabalhar em conjunto e cocriar soluções adequadas com os agricultores/produtores florestais, cooperativas, especialistas em TIC, etc…

O INESC TEC

O INESC TEC é uma associação privada sem fins lucrativos, cujos associados são a Universidade do Porto (UP), INESC, Politécnico do Porto (P.PORTO), Universidade do Minho (UM) e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). O modelo de receitas passa por 1/3 de financiamento de base, 1/3 de financiamento público através de projetos concorrenciais e 1/3 de receitas com empresas. A associação dedica-se à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (I&DT) no âmbito das Tecnologias de Informação, Comunicação e Eletrónica (TICE) e Robótica, constituindo uma interface entre a academia e a sociedade e conta, atualmente, com cerca de 1000 pessoas, entre investigadores contratados, investigadores docentes, investigadores bolseiros e contratados de estrutura.

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Fonte: Vida Rural

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