Cebola de indústria é boa opção de rotação

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Na região de Serpa, José Saramago Brito gere uma área de 320 hectares e tem hoje a opção de fazer uma verdadeira rotação de culturas, jogando entre as terras de sequeiro e as que já são irrigadas pela Barragem da Lage. A cebola de indústria foi uma escolha este ano, para além de cevada dística de multiplicação, girassol, brócolos, grão-de-bico e trigo mole biológico para baby food, a somar à vinha e à floresta.

A água de Alqueva trouxe uma possibilidade quase infindável de culturas ao baixo Alentejo, mas o clima mais húmido – devido às barragens e à rega de milhares de hectares de olival – “também potencia mais doenças, como este ano o míldio”, afirma o agricultor. “Além de outras situações que podem trazer à região alguns problemas de mais difícil resolução como a ‘monocultura’ do olival, a falta de mão-de-obra e de agroindústria, inviabilizando algumas culturas, por causa do custo de transporte”, para a zona do Ribatejo onde se situa a maioria das agroindústrias, defende José Saramago Brito.

Por isso, a opção dos produtores, em muitos casos é deixar de fazer ou vender a Espanha, como fez com a cebola de indústria – que a reportagem da Vida Rural acompanhou em fase inicial de apanha: “Vai para a Vegenat em Badajoz”, apesar do produtor pertencer à Torriba, porque as condições são mais vantajosas. “A cebola vai a granel para cortar, no calibre que o cliente quer, e depois desidratar. Eles fornecem nomeadamente a McDonald’s Europa para misturar na massa dos hambúrgueres, intensificando o sabor, e também para as misturas de sopas”.

Rotação de culturas

José Saramago Brito gere 320 hectares de terras, centradas no Monte da Lage numa sociedade com os filhos, e tem três colaboradores fixos. Confessa: “Bem me tentei afastar da agricultura, tirei o curso de Gestão em Évora e estive em Lisboa durante três anos, mas acabei por vir e já cá estou há 23 anos, a viver em Beja e agora estou a arranjar o monte para vir mesmo para aqui”.

“A cebola de indústria é mais fácil em termos de maneio” que a de fresco.

Voltando às possibilidades que Alqueva trouxe, o produtor salienta que “cerca de 200 hectares já são regados, 150 hectares de pivots e a restante área ainda não está infraestruturada”. Tem culturas permanentes como a vinha – vendendo a uva a granel para o Monte da Capela, em Pias – e a floresta (freixos, sobreiros e azinheiras) e este ano fez cebola de indústria, “depois de cevada dística no ano passado neste pivot, que também fiz este ano noutro”, brócolos e depois girassol, noutro pivot e também numa parte de sequeiro (girassol), grão de bico, “que não correu bem”, e trigo mole biológico para baby food.

Falando já do que não correu bem – o grão-de-bico – explica-nos que “as condições este ano foram muito complicadas para esta cultura e acabei por nem sequer apanhar. Aproveitei para o greening, porque temos de manter vestígios da cultura até 31 de julho, assim passei o destroçador e incorporei no terreno. Agora vou fazer um cereal como cultura melhoradora”.

Primavera chuvosa permitiu regar menos

Acompanhamos então a apanha da cebola e o produtor frisa que “a cebola de indústria é mais fácil em termos de maneio” que a de fresco. Neste caso, a semente é vendida pela própria fábrica – a Vegenat – que também tem regras específicas de maneio e segue de perto o desenvolvimento da cultura. “Instalei em meados de novembro, um pivot de 15,5 hectares e espero uma produção um pouco abaixo dos anos anteriores, na ordem das 30 a 32 toneladas/ha, contra 35 a 39 ton/ha em média, porque tivemos mais doenças, nomeadamente míldio, devido às condições climáticas e à humidade no ar que é cada vez maior aqui na região”.

Sobre o desperdício que verificámos que fica no campo, José Saramago Brito admite que “também me incomoda mas acabo por incorporar no terreno e assim aumentar o teor de matéria orgânica deste solo, que é bom para a cebola, mas é principalmente barro e caliço”.

Na apanha, a máquina (de um prestador de serviços espanhol e que ‘inclui’ o pessoal), faz uma primeira passagem para levantar a cebola “que fica cerca de três dias a secar e depois é que passa de novo para a apanhar”.

Antes da apanha da cebola, corta-se a rama, depois levanta-se a cebola, que fica três dias a secar, e, finalmente, apanha-se a cebola, que é levada para um camião, para ser transportada para a fábrica
José Saramago Brito
Antes da apanha da cebola, corta-se a rama, depois levanta-se a cebola, que fica três dias a secar, e, finalmente, apanha-se a cebola, que é levada para um camião, para ser transportada para a fábrica

Devido à primavera muito chuvosa o agricultor conta-nos que “a cebola levou este ano 4.100 m³/ha de água, em vez dos habituais 6.000 m³/ha”. Mas o que poupou na água gastou em tratamentos: “Fungicidas foram oito aplicações e sete de herbicida, o que encarece muito a conta de cultura da cebola, que foi de quase 4.000€/ha e temos de somar o custo de transporte para a fábrica em Badajoz que fica a cerca de 200 quilómetros”, mas ainda compensa.

Alguma precisão e muita experiência

Questionado sobre se usa equipamentos de agricultura de precisão, como sondas de outros, o agricultor refere que “ao longo dos anos tenho usado várias sondas mas não são minhas, são de ensaios e projetos diversos em parceria com o Centro Operativo e de tecnologia do Regadio (COTR) e o Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) para avaliação do sistema de rega e, mais recentemente, no âmbito de um grupo operacional (GOP) do PRD2020” e salienta que “têm sido úteis mas o grande problema que vejo é que cada sonda cobre apenas uma muito pequena parte de solo e o terreno aqui é muito irregular”.

José Saramago Brito explica que faz a gestão da rega ele próprio, baseado na experiência e com os dados dos pluviómetros dos pivots, “e também recorro à consultoria de dos técnicos espanhóis, pois tenho de fazer sempre a folha de rega para a fábrica”.

Sobre as outras culturas, depois do brócolo, “no girassol fizemos este ano 65 hectares de regadio (que habitualmente produz médias de 3.000 a 3.500kg/ha) e 75 hectares de sequeiro (com médias habituais de 500 a 600kg/ha), mas este ano devido às chuvas da primavera a diferença não deverá ser tão grande”, diz-nos o produtor acrescentando que “vendo o girassol para a Sovena, através da Cooperativa de Beja e Brinches”.

Questionado sobre se usa equipamentos de agricultura de precisão, o agricultor explica que as sondas “têm sido úteis mas o grande problema que vejo é que cada sonda cobre apenas uma muito pequena parte de solo e o terreno aqui é muito irregular”.

Já a cevada dística, de que fez 55 hectares, vai principalmente para a Maltibérica, mas destes 15 foram de multiplicação de semente para a Agrovet, e o trigo mole, da variedade Rebelde, ocupa 20 hectares em cantos de pivot e “num pivot, é biológico porque é para baby food e produziu cerca de 7.000kg/ha”, frisa.

José Saramago Brito vende este trigo para a Germen, uma empresa de moagem de cereais no norte do País.

Mais área de montado

No terreno da cebola, “só daqui a três anos é que posso fazer de novo esta cultura, por isso no próximo vou fazer aqui o trigo mole Rebelde”.

Já em relação às culturas permanentes, na vinha as castas brancas são Antão Vaz e Arinto e as tintas Syrah e Touriga Nacional: “fazemos vindima mecânica para reduzir os custos, uma vez que vendemos tudo a granel”, refere o produtor, adiantando: “Não fomos muito afetados pelo escaldão porque nesta zona como o sol já é habitualmente forte deixamos sempre folhas para proteger a uva, o maior problema, como podem ver, são os estorninhos. Tenho canhões de gás mas eles acabam por se habituar”.

E na área de floresta, José Saramago Brito conta-nos que “temos freixos, para madeira, azinheiras, de onde vendemos a bolota, e sobreiro, para a cortiça”, num total de 18 hectares. “Fizemos também um projeto de adensamento do montado, que agora tem cinco anos, tendo sido regado (com depósito) nos primeiros três anos”.

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