Acordo com União Europeia provoca euforia no Mercosul

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O acordo celebrado entre a União Europeia e os países do Mercosul provocou uma espécie de ‘euforia’ nos países do Mercado Comum do Sul. Diversos especialistas de renome em economia e agronegócios foram ouvidos em exclusivo pela Revista Vida Rural e convergem para um mesmo entendimento: os países do chamado Cone Sul da América abriram um grande mercado mundial que, se bem aproveitado, pode significar uma ‘mudança de patamar’ para os países do bloco.

Até há pouco tempo, não era incomum ouvir rumores de que o Mercosul poderia até mesmo acabar – hipótese que foi levantada pelo atual presidente brasileiro Jair Bolsonaro. A impressão é de que o livre comércio entre países de economia instável não trazia reais benefícios. Mas o cenário mudou totalmente nos últimos dias, com o anúncio oficial da conclusão de uma parceria que vinha sendo costurada há muitos anos entre europeus e sul-americanos. Entidades que representam produtores, indústrias e toda a cadeia do agronegócio pronunciaram-se saudando o entendimento e comemorando as oportunidades abertas.

Uma das maiores autoridades em agronegócio do Brasil, Marcos Fava Neves, destaca que, acima de tudo, um acordo como este é sempre bom para os consumidores dos países envolvidos: “Neste caso foram duas décadas de conversas, e não deixa de ser uma onda contrária aos movimentos protecionistas recentes. É um bloco de 720 milhões de pessoas e 25% do PIB mundial”.

“Para a União Europeia interessam mais os mercados de produtos manufaturados, entre eles vinhos e queijos, além de contratos públicos. Nestes mercados concorrerão mais com outra oferta brasileira. Para o Mercosul abre-se mais o mercado europeu para frutas, suco de laranja, café, carnes açúcar e etanol – portanto estas empresas sairão ganhando. A redução das tarifas é gradual, reduzindo os impactos imediatos. Mas assim que estas aberturas se efetivarem, muitas oportunidades de negócios para empresas acontecerão”, ressalta.

Para Ciro Rosolem (professor na Universidade Estadual Paulista) o acordo de livre comércio é, sem dúvida, um marco nas relações internacionais. O especialista destaca, porém, que já aparecem contestações, principalmente da França e Irlanda, em função da sua política protecionista ao conceder muitos subsídios aos produtores.

“São investidos US$ 705 bilhões [cerca de 66 mil milhões de euros]em políticas agropecuárias, de acordo com um recente estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Em média, 20% da receita dos produtores de 36 países da OCDE vem de subsídios, o que distorce o mercado. No Brasil, menos de 3% da receita vem de subsídios. Dá para entender porque eles não estão muito felizes?”, aponta.

Sob outro prisma, o economista Gustavo Grisa, da Agência Futuro, afirma que o acordo significa uma oportunidade de abertura na sua posição estratégica, variando o eixo dos EUA e China. Para este especialista, trata-se de um novo impulso à indústria, criando oportunidades e aumentando a oferta de produtos ‘low end’ da indústria europeia no mercado sul-americano: “Cria-se um efeito positivo de ‘choque de produtividade e abertura’ sobre as economias, mas que exigirá esforço e preparação”.

Especialista em análise de cenário político e económico, Grisa afirma que os sul-americanos terão de procurar certificações, consorciar-se, desenvolver marca, inserir-se nas grandes cadeias produtivas mundiais e ganhar capacidade de fornecer em grande escala, com constância, se quiserem ter chances de competir. “Possivelmente haverá desenvolvimento do mercado B-to-B com a produção no Mercosul para distribuição por marcas europeias, no Mercado Europeu. Para isso, multinacionais europeias estarão mais preparadas inicialmente”, adverte.

O economista alerta que os países emergentes do Mercosul precisarão, primeiro, de resolver os seus problemas internos. “Serão necessários ajustes na lógica produção/transporte/porto, para ganhar produtividade e maior cooperação ‘intra-Mercosul’, o que é incipiente, até ao momento. O Brasil é o grande player, com um sério problema sistémico, de logística e custo de transação. Este aspeto precisa de ser melhorado para ganhar competitividade. Um ponto frágil é que, no curto e médio prazo, as economias e principalmente a indústria do Brasil e Argentina estão muito fragilizadas, o que pode restringir o avanço”, comenta.

O próprio Mercosul como bloco em si ainda é muito embrionário – tem problemas de assincronia – diz Grisa. O Brasil e Argentina, as suas maiores economias, sofrem crises económicas há pelo menos cinco anos. Segundo ele, é preciso que essas economias se recuperem para que se possa encontrar os melhores benefícios de uma aproximação desse tipo. Da mesma forma, a organização público-privada, principalmente associações setoriais e consórcios, deve fortalecer-se com estratégias de negócio para possibilitar negócios vantajosos nos dois lados do Atlântico. “É um avanço muito positivo e muito esperado, mas exigirá trabalho duro e focado por parte dos sul-americanos, especialmente, do Brasil”, conclui.

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Fonte: Vida Rural

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